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TOXICIDADE AGUDA

Fase gastrointestinal

A mescalina é administrada principalmente a nível oral, pela mastigação ou infusão de “botões” do cato Peiote (ver Origem) [1].

Contudo, como os botões do Peiote têm um sabor amargo, após a ingestão, ocorre uma fase inicial transitória de náusea, vómito e cólicas abdominais [2, 3].

Fase simpaticomimética

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A mescalina é um derivado da feniletilamina, estruturalmente relacionado com a noradrenalina [1, 2, 4], um neurotransmissor envolvido na transmissão adrenérgica. Deste modo, os sintomas de intoxicação por mescalina são consistentes com um toxidrome simpaticomimético [1, 2, 3]:

•Taquicardia;

•Hipertensão;

•Palpitações;

•Midríase;

•Diaforese;

•Hiperreflexia;

•Tremores;

•Rigidez muscular;

•Agitação.

Fase psíquica

Aproximadamente 4 – 6 h após ingestão, ocorre uma fase semelhante a uma intoxicação por LSD [2]. O indivíduo experiencia alucinações subsequentes da ocorrência de várias distorções, que envolvem a perceção sensorial, espaço, tempo, cor, som e formas, assim como, um sentimento onírico [5]. Hermie et al. [6] mostrou, em voluntários masculinos normais, que a mescalina produzia um “estado psicóticoagudo, 3,5 – 4 h após a sua administração, conforme a medição feita pela Escala de Avaliação Psiquiátrica Breve e pela Escala de Depressão Paranoide.

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Para mais informações

Existem poucos dado relativos à prevalência de sequelas causadas pelo consumo crónico da mescalina, contudo foi relatado um estado de psicose prolongada semelhante à esquizofrenia [1].

Outros estudos realizados em subgrupos de nativos americanos, com hábitos de consumo distintos, sugerem que o uso a longo prazo do Peiote, pelo menos quando ingerido nas cerimónias religiosas, não está associado a efeitos residuais psicológicos ou cognitivos. O grupo composto por nativos que ingeriam Peiote regularmente mostrou não ter diferenças significativas, com o grupo composto por indivíduos sem uso reportado de substâncias, na maioria das escalas do Rand Mental Health Inventory ou em qualquer avaliação neuro psicológica [7].

Além disso, o uso do Peiote, em contexto religioso, não parece estar associado ao distúrbio da perceção alucinogénia persistente (“flashbacks”) [1, 8] e, embora a mescalina não desenvolva dependência física com o uso crónico, os utilizadores podem desenvolver dependência psicológica [2].  

TOXICIDADE CRÓNICA

A mescalina é considerada uma substância com potencial teratogénico [3].

Um estudo, que envolveu a exposição de hamsters grávidas à mescalina , revelou uma diminuição, dependente da dose, do tamanho das crias e um aumento da morte fetal [2, 3].

Além disso, o National Institute on Drug Abuse cita um caso de anormalidades fetais associado à mescaline e referencia um caso de estudo de Gilmore (2001) reportando que um uso inapropriado da mescalina (Peiote), durante a gravidez, para fins religiosos, está associado a anormalidade fetal [9, 10, 11].

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Referências bibliográficas

[1] Dinis-Oliveira, R. J., & Pereira, C. L. (2018). Pharmacokinetic And Pharmacodynamic Aspects Of Peyote And Mescaline: Clinical And Forensic Repercussions. Current molecular pharmacology. (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/30318013)

[2] Slothower, J. D., & Wiegand, T. J. (2014). Mescaline. (https://doi.org/10.1016/B978-0-12-386454-3.00747-8)

[3] 3,4,5-TRIMETHOXYPHENETHYLAMINE - Toxnet. Disponível em: https://toxnet.nlm.nih.gov/cgi-bin/sis/search2/r?dbs+hsdb:@term+@DOCNO+7503. (Acedido em: 18/05/2019)

[4] Kennedy, D. O. (2014). Plants and the human brain. Oxford University Press. (https://books.google.pt/books?isbn=019991401X)

[5] Kovacic, P., & Somanathan, R. (2009). Novel, unifying mechanism for mescaline in the central nervous system: electrochemistry, catechol redox metabolite, receptor, cell signaling and structure activity relationships. Oxidative medicine and cellular longevity, 2(4), 181-190. (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2763256/

[6] Hermle, L., Fünfgeld, M., Oepen, G., Botsch, H., Borchardt, D., Gouzoulis, E., ... & Spitzer, M. (1992). Mescaline-induced psychopathological, neuropsychological, and neurometabolic effects in normal subjects: experimental psychosis as a tool for psychiatric research. Biological psychiatry, 32(11), 976-991. (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1467389)

[7] Halpern, J. H., Sherwood, A. R., Hudson, J. I., Yurgelun-Todd, D., & Pope Jr, H. G. (2005). Psychological and cognitive effects of long-term peyote use among Native Americans. Biological psychiatry, 58(8), 624-631. (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16271313)

[8] Nichols, D. E. (2004). Hallucinogens. Pharmacology & therapeutics, 101(2), 131-181. (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14761703)

[9] Gibbons, S., & Arunotayanun, W. (2013). Natural Product (Fungal and Herbal) Novel Psychoactive Substances. In Novel Psychoactive Substances (pp. 345-362). Academic Press. (https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/B9780124158160000146

[10] Prue, B. (2014). Prevalence of reported peyote use 1985–2010 effects of the American Indian Religious Freedom Act of 1994. The American journal on addictions, 23(2), 156-161. (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25187051)

[11] Fonte: National Institute on Drug Abuse; National Institutes of Health; U.S. Department of Health and Human Services. Disponível em: https://www.drugabuse.gov/publications/drugfacts/hallucinogens. (Acedido em: 18/05/2019)

© 2019 by Ana Rita Gomes | Joana Cardoso | Nuno Guedes

Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Toxicologia Mecanística no ano letivo 2018/2019 do Curso de Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto (FFUP). Este trabalho tem a responsabilidade pedagógica e científica do Professor Doutor Fernando Remião (remiao@ff.up.pt) do

Laboratório de Toxicologia da FFUP

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